domingo, 7 de agosto de 2016

Culpada

Tudo começou quando meu pai me ligou pedindo que eu fosse buscá-lo para a festinha de aniversário da minha sobrinha. Que mal há nisso? Nenhum se eu não fosse vizinha da minha irmã e ele não morasse a 20 minutos da minha casa, além de outros detalhes do passado que imobilizam toda e qualquer boa vontade da minha parte.

Ele poderia pegar um táxi. Sendo que, por algum motivo, ele morre, mas não anda de táxi. E o que é que eu tenho haver com isso? Nada! Problema dele. Por isso, não deveria me importunar pedindo esse tipo de favor.

Meus pais são craques em despertar o sentimento de culpa que há em mim. Mas vem cá, qual o filho que não se sente culpado em recusar favor a um pai ou uma mãe?

Isso me irrita porque, ao me sentir culpada, me sinto também uma megera, que abandona os pobres e coitadinhos dos pais. E é só o que me dá vontade!

Na verdade, não tenho o menor interesse em ajudá-los e odeio quando me pedem favor, porque, no fundo, sabemos que estão é me sequestrando emocionalmente.

Meus pais passaram a maior parte de suas vidas brigando. Eu e minha irmã estávamos constantemente em território de fogo cruzado, no meio de suas brigas, tentando evitar que eles se matassem.

Passei parte da minha infância e toda a adolescência vivendo nesse inferno, que até hoje me deixou sequelas, as quais me fazem travar uma luta interna todos os dias, para tentar me convencer de que vale a pena viver. 

Não preciso nem citar que tenho uma síndrome de insignificância, que faz com que eu me esconda do mundo. Também carrego um complexo de inferioridade que costuma lembrar-me o quanto sou a pior pessoa do mundo. Autoestima? O que é isso mesmo?

E ainda tenho que ter apreço por essas pessoas? Pior ainda é que eu já tentei acabar com a própria vida e, para completar o desfecho da tragédia, tive um câncer.

Escrevi tudo isso para dizer que a simples negação de um favor a meus pais, me fazem pensar que terei outro câncer, de tão deprê que fico. Isto me aterroriza e é o suficiente para todos os fantasmas da perdição começarem a rondar na minha cabeça.

Mas como meu objetivo com este blog é dar a volta por cima, ao detectar esses sentimentos tenebrosos, quero registrar aqui que amanhã é um novo dia e eu descobri que tenho cartas na manga: autonomia de escolha.

Portanto, não serei refém de situações, muito menos de pessoas que me prendem a um passado injusto. Desejo a felicidade de todos eles, contanto que permaneçam bem longe de mim, lá na PQP, se for o caso.

Imagem: Pixabay

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