Tudo começou pela manhã, quando me dei conta de que não sei ganhar
dinheiro. Esta é mais uma característica de pessoas que se sentem um
nada e têm, portanto uma terrível síndrome de insignificância.
Pensamentos borbulhando na panela craniana...
Não aguento mais fazer tantas coisas e nenhuma delas surtir sequer algum
resultado financeiro. Fico só embarcando nessa onda de empreendedorismo
e o máximo de retorno que tenho é o cansaço e aquele vermelho irritante
pintando os números da minha conta no internetbanking.
O pior é que todos ao meu redor conseguem ganhar dinheiro. Já pensei em
fazer faxina, mas detesto limpar a casa. Além do mais, qual a patroa que
empregaria uma pessoa de nível superior para ser diarista? No mínimo,
eu seria denunciada por fraude ou integrante de uma quadrilha organizada
para assaltar o banco central. Se bem que estamos em crise. O que é
isso mesmo? Ok. Meu problema é outro.
Há algo errado comigo. Por que não engreno? Tanta gente consegue se
virar para ganhar R$ 10,00 por dia e eu produzo todos os dias e não
ganho nada. Ainda dou prejuízo para o marido!
Que exemplo estou dando à minha filha? E se ela for uma indecisa, que
faz mil coisas, não tem perseverança e ainda se sente um peso nas costas
do companheiro?
Eis o meu ponto fraco. Aliás, quem é mãe, sabe do que estou falando. Mexeu com filhos, o mundo desaba. Comecei a chorar.
Imagine a cena: lágrimas escorrendo pela minha face, caindo sobre as
panelas ensaboadas. Para completar o drama da novela mexicana, chega o
marido, me vê com a corda no pescoço e me apunhala pelas costas:
- Todo mundo ganha pelo menos o salário. Eu, nas suas condições,
percebendo que não sei ganhar dinheiro, mudaria a estratégia e não
correria mais atrás dele.
Foi a gota d'água para me sentir ainda mais frustrada: mãe incompetente,
profissional fracassada e esposa dependente. Este último é o pior dos
cenários, porque minha mãe era assim. Ou seja, tenho grandes tendências
de seguir o mesmo destino. Por isso, entro em pânico só em pensar que
nunca me emanciparei.
Cheguei no limite do meu cansaço: chorei, chorei, chorei, expulsei o
marido da cozinha e fui pensar na vida, enquanto terminava de lavar a
louça.
Nada como o fundo do poço para você ver que de lá não passa e só lhe
resta tentar subir e nada como um marido que torce por você em todos os
aspectos... Hããã??? Depois eu te explico.
Eis a minha virada: enxuguei as lágrimas e me pus a pensar. Tive grandes
ideias, as anotei em uma folha de papel e fui brincar com minha filha.
Recuperei meu bom humor, voltei a sorrir e aqui estou, chegando à
conclusão, mais uma vez, de que todos os dias podemos escolher como será
daqui para frente.
Para fechar com chave de ouro, faço minhas as palavras do Carl G. Jung:
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