domingo, 31 de julho de 2016

Cansada

Tudo começou pela manhã, quando me dei conta de que não sei ganhar dinheiro. Esta é mais uma característica de pessoas que se sentem um nada e têm, portanto uma terrível síndrome de insignificância.

Pensamentos borbulhando na panela craniana...

Não aguento mais fazer tantas coisas e nenhuma delas surtir sequer algum resultado financeiro. Fico só embarcando nessa onda de empreendedorismo e o máximo de retorno que tenho é o cansaço e aquele vermelho irritante pintando os números da minha conta no internetbanking.

O pior é que todos ao meu redor conseguem ganhar dinheiro. Já pensei em fazer faxina, mas detesto limpar a casa. Além do mais, qual a patroa que empregaria uma pessoa de nível superior para ser diarista? No mínimo, eu seria denunciada por fraude ou integrante de uma quadrilha organizada para assaltar o banco central. Se bem que estamos em crise. O que é isso mesmo? Ok. Meu problema é outro.

Há algo errado comigo. Por que não engreno? Tanta gente consegue se virar para ganhar R$ 10,00 por dia e eu produzo todos os dias e não ganho nada. Ainda dou prejuízo para o marido!

Que exemplo estou dando à minha filha? E se ela for uma indecisa, que faz mil coisas, não tem perseverança e ainda se sente um peso nas costas do companheiro?

Eis o meu ponto fraco. Aliás, quem é mãe, sabe do que estou falando. Mexeu com filhos, o mundo desaba. Comecei a chorar.

Imagine a cena: lágrimas escorrendo pela minha face, caindo sobre as panelas ensaboadas. Para completar o drama da novela mexicana, chega o marido, me vê com a corda no pescoço e me apunhala pelas costas:

- Todo mundo ganha pelo menos o salário. Eu, nas suas condições, percebendo que não sei ganhar dinheiro, mudaria a estratégia e não correria mais atrás dele.

Foi a gota d'água para me sentir ainda mais frustrada: mãe incompetente, profissional fracassada e esposa dependente. Este último é o pior dos cenários, porque minha mãe era assim. Ou seja, tenho grandes tendências de seguir o mesmo destino. Por isso, entro em pânico só em pensar que nunca me emanciparei.

Cheguei no limite do meu cansaço: chorei, chorei, chorei, expulsei o marido da cozinha e fui pensar na vida, enquanto terminava de lavar a louça.

Nada como o fundo do poço para você ver que de lá não passa e só lhe resta tentar subir e nada como um marido que torce por você em todos os aspectos... Hããã??? Depois eu te explico.

Eis a minha virada: enxuguei as lágrimas e me pus a pensar. Tive grandes ideias, as anotei em uma folha de papel e fui brincar com minha filha. Recuperei meu bom humor, voltei a sorrir e aqui estou, chegando à conclusão, mais uma vez, de que todos os dias podemos escolher como será daqui para frente.

Para fechar com chave de ouro, faço minhas as palavras do Carl G. Jung:

"Eu não sou o que me aconteceu. Eu sou o que escolho me tornar."

Imagem: Pixabay